quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Ale da vitoria



O mar tinha trazido meu companheiro de volta. Dois dias depois que meu filho partiu, os horns soaram avisando que as embarcações podiam ser vistas na linha do horizonte. Eu ainda tinha em meu corpo o calor das noites de amor com Ivar.  As bonds correram animadas, as pessoas se dirigiam ao porto empolgadas, mulheres que corriam para saudar seus  companheiros, crianças para ouvirem as historias, verem os despojos, os prêmios, vibrarem  com a dança dos remos, cantarem juntos  as canções cantadas no navio enquanto a Ale da vitoria era passada de mão em mão pelos guerreiros. O retorno dos homens é sempre festa. Não só pelas vitorias e despojos que possam vir junto com eles. Mas por que o mar é caprichoso e os deuses podem fazer valer a sua vontade, cortando o fio do destino de uma alma ou outra. A guerra é brutal e sangrenta e quando nossos homens voltam com vida, é sempre motivo para se comemorar.
Eu estava lá, como tanta outras mulheres  esperando ansiosa os braços e os beijos de Draco. Eu sabia que ele tinha sido ferido, eu senti, sangrei na cama por ele e vivenciei a sua dor durante a madrugada . O feitiço nos mantinha ligados e o trazia de volta para mim sempre com vida. Mesmo assim meus olhos e mãos os percorreram , querendo ter a certeza que ele estava bem. Como ele tinha prometido , não se demorara. Voltava com o riso no rosto , o brilho naquele olhos verdes profundos, ele tinha a vitoria , tinha o sangue , as mulheres e ouro dos inimigos. Tinha dobrado a cidade de Ty a sua vontade. Pouco a pouco os escravos desciam, as meninas bebiam do vinho , iam para o branding e depois seriam cuidadas para serem vendidas em nossos blocos, os tralls eram levados aos galpões e postos no trabalho pesado de nossos campos.  Algumas escravas em especial sempre  me chamavam a atenção, as que eram encaminhadas para o long. Aquelas eram os prêmios maiores, sempre separadas para uso pessoal de Draco.  Mulheres bem nascidas e sempre as mais bonitas, eram dobradas e submetidas  apenas por My Jarl.  Meus olhos não podiam deixar de segui-las, avalia-las, imaginando  se elas o teriam encantado , o agradado...se ele teria gostado ou mesmo esquecido de mim enquanto enquanto com elas. Sempre tive ciúmes , não nego e sempre foi a parte mais difícil de lidar , saber que ele por vezes, quando longe de mim e de meu amor, buscava os braços de outra. È uma disputa injusta a de uma lady e uma escrava.  O poder do xicote não suplanta o poder do corpo. Eu sempre soube disso e esse sempre foi o meu maior medo, que outra se colocasse aos seus pés e fosse para ele o que eu já não podia mais ser. A liberdade nos cobra um preço cruel.
A noite foi de  festa, dança e cantoria,  as portas dos salões foram abertas como há muito tempo não abríamos. TArsks  e  boscks foram levados aos braseiros, as canecas eram constantemente cheias com ale, os horns entornados  com o  mead, as bonds alegravam e cuidavam dos jarls, as historia eram contadas, os feitos ovacionados. Meu marido exultava. Mas na porta do long uma voz fez meu sangue gelar.  Era um skald, que se dizia chamar Ragnar e pedia abrigo. Numa noite daquelas, Draco jamais negaria e o homem foi convidado a partilhar nossa mesa e a ficar em Tsiq-jula o tempo que precisasse. Ele nos brindou com canções, em sua voz bela, ele  cantava os feitos de Ar ao Tahari, as vitorias eram contadas, e os nomes desses homens perpetuados em suas canções. O nome de meu filho estava entre eles e meu coração se encheu de orgulho, mas não apagou o medo  e as lembranças que aquela voz me trazia. Me fez lembrar Gorak, o skald de Gladsheim, da época em que  eu ainda era escrava e tinha outro dono, quando Draco apenas me cobiçava e nosso desejo podia ser a nossa desgraça...uma época em que a voz macia daquele skald me atormetava de terror e medo, sempre a espreita como uma serpente esperando a hora do bote. Balancei minha cabeça  afastando os pensamentos, devia ser impressão minha , o nome era outro e já tinham se passado tantos anos. Minha atenção foi trazida de volta quando Draco , empolgado anunciou a Coisa e seus planos para o futuro. Devo admitir que fiquei surpresa. Ele falava de unir o povo Torvalds, sob uma única mão e reivindicar  todo o norte. Ele usaria a feira da Coisa para fechar as alianças. Draco sempre deu importância a vitorias, ao ouro e a sua honra, mas poder sobre territórios? Algo me dizia que os feitos do meu filho, cantados pelo skald, tinham mexido com seus brios. Os homens se animaram e aceitaram a idéia, queriam o norte sob a força e soberania dos Torvaldslanders. Draco  estendeu sua alegria e comemoração aos nossos aposentos e requisitou Honey Favo de Mel , para nossas peles. Aquilo me tirou o chão. Ela tinha sido comprada por ele em Lydius num leilão logo que retornamos do Tahari.  A beleza dela saltava aos olhos bem como o seu fogo que parecia sempre queimar em seu ventre. Ela havia se insinuado a noite toda eu já tinha percebido o interesse dela em My Jarl. Uma escrava sempre vai querer ser a preferida de seu dono, sua vida melhora consideravelmente quando isso acontece, e eu já tinha percebido a abordagem da loira por diversas vezes, a tinha arrancado do colo dele mais cedo, dentro do meu próprio salão e agora, ele a chamava para as peles. Aquilo me soou como uma punição e o indaguei sobre isso. Não que isso nunca tenha acontecido, mas há anos que ele não o fazia, e temi naquele instante que eu o tivesse desagradado de alguma forma. Foi um erro questiona-lo e soube disso imediatamente. Os olhos vieram frios para mim, as palavras saíram ríspidas e nossa noite acabou ali, com minha cama vazia e a certeza dele , que eu já não era a mesma e tão pouco prezava pelo prazer e vontades dele.

Lady Kalandra de Draco de Tsiq Jula - JarlWoman of Tsiq Jula

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